O Itamaraty ajudou o governo dos Estados Unidos a pressionar juízes brasileiros para que os pilotos norte-americanos do jato Legacy envolvido no desastre do voo 1907 da Gol, em 2006, ocorrido no Norte de Mato Grosso, pudessem sair do Brasil e voltar ao seu país. Inúmeros telegramas obtidos pela ONG WikiLeaks (www.wikileaks.ch) confirmam que pelo menos um embaixador brasileiro telefonou para os magistrados federais intercedendo pelos americano.
Mais que isso: o embaixador dos EUA na época, Clifford Sobel, soube por antecipação que os pilotos seriam liberados para voltar, segundo a ONG WikiLeaks. Os nomes dos magistrados supostamente pressionados não foram descritos pelo site. A libertação dos pilotos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foi concedida pelo Tribunal Regional Federal, em processo relatado pelo desembargador Cândido Ribeiro.
Na época, o magistrado justificou que “ medida de restrição à liberdade de locomoção dos estrangeiros não encontra respaldo na lei processual penal pátria''. Os estrangeiros comandavam o jato Legacy que colidiu com a aeronave da Gol, no dia 29 de setembro, causando a morte de 154 pessoas, no maior acidente aéreo da história no Brasil. O Boeing, que havia saído de Manaus, caiu, sem sobreviventes. Os americanos conseguiram pousar o avião Legacy na Base Aérea de Cachimbo, no Sul do Pará.
Os comandantes foram acusados de voar com o transponder desligado. Isso impediu que os radares do sistema de controle de voo em Brasília identificassem que o jato voava numa altitude errada e que os sistemas anticolisão dos dois aviões "conversassem" e evitassem o acidente.
Proibidos de sair do Brasil por juízes federais de Mato Grosso, Lepore e Paladino tiveram ajuda não apenas dos diplomatas dos EUA, mas do próprio governo brasileiro, conforme os telegramas do WikiLeaks, segundo o jornal “Folha de São Paulo”.
Em um telegrama confidencial de 17 de novembro de 2006, enviado pela embaixada dos EUA em Brasília para Washington, está escrito que o embaixador Manoel Gomes Pereira "repassaria" as "preocupações" dos norte-americanos ao tribunal que daria ou não o direito de os pilotos deixarem o Brasil. "Ele [Pereira] disse que faria isso oralmente, pois teme que comunicação escrita possa produzir efeito contrário aos pilotos", diz o texto.
Em 24 de novembro, a diplomacia dos EUA escreve: "O embaixador Manoel Gomes Pereira telefonou para o cônsul-geral Simon Henshaw e disse que havia contatado dois dos juízes do processo dos pilotos e transmitiu as nossas preocupações".
Com apenas um parágrafo, o documento termina com um alerta: "Ele [o brasileiro] recomenda que nenhuma ação extra seja tomada até a decisão pois os juízes são sensíveis a pressão externa".
Nove dias depois, em 5 de dezembro de 2006, o TRF concedeu habeas corpus para Lepore e Paladino. Eles receberam seus passaportes e voltaram no dia 8 para os EUA, onde foram recebidos em festa, para revolta das famílias das vítimas. Dias antes de a Justiça Federal liberar os pilotos, a diplomacia norte-americana já demonstrava segurança sobre como seria a sentença.
Num telegrama de 1º de dezembro de 2006, o então embaixador americano Clifford Sobel escreveu: "É só uma questão de quando, e não de se, para que os pilotos do Legacy (...) sejam autorizados a deixar o Brasil".
Procurado, o Itamaraty disse que não ia comentar, por não ter conhecimento do conteúdo dos telegramas.
Fonte: 24horasnews